viernes, 22 de junio de 2012

DESDE BRASIL: DOS COMUNICADOS SOLIDARIOS CON LOS PRESOS

Contra a prisão dos companheiros libertários na Bolívia


Pela liberação de Nina e Henry

"Ser anarquista NÃO é ser terrorista"

Em 29 de maio de 2012 em La Paz, Bolívia, foram detidos 10 ativistas sociais relacionados com as ideias antiautoritárias, comprometidos com as lutas feministas, do cuidado da terra, da libertação animal, da preservação do TIPNIS e da difusão das ideias anarquistas. As prisões e buscas foram realizadas através da criação de uma montagem, na sequência de uma investigação sobre os ataques a caixas eletrônicos. A Polícia de Investigação da Bolívia está buscando os responsáveis por vários ataques a instituições financeiras em La Paz, que são um reflexo da insatisfação popular com um governo que responde com a repressão violenta os protestos sociais. A prisão e criminalização do movimento anarquista se expandem por parte dos governos populares da América Latina. Os crimes que lhes são imputados são terrorismo e tentativa de homicídio, como prova ideológica foram requisitadas publicações, documentos pessoais, cartazes e bandeiras, igualmente como na montagem do "caso bombas", que se passou no $hile recentemente.

Os ativistas que permanecem presos desde essa data são Henry Segarrundo Ariñez, na Prisão de San Pedro, La Paz, e Nina Marcia Mancilla Cortez, na prisão de mulheres na zona de Miraflores, também em La Paz. Os detidos são ativistas da Coordenadoria pela Autodeterminação dos Povos, ambos são músicos e jovens adultos. Ela faz parte de um grupo de música de mulheres e tem atuado em grupos feministas. Henry é um professor, libertário e vegan.

Criminalização do movimento anarquista

As prisões tendo como alvos ativistas do movimento libertário estão em andamento, e sendo aplicadas figuras penais que estão dentro das novas leis antiterrorismo propostas e aprovadas pelos governos da UNASUL. As pessoas detidas na Bolívia são acusadas de atos terroristas e de associação internacional. Assim como aconteceu com o fabricado "caso bombas" em 2010, no vizinho Chile, que se destinava a desarticular o protesto e encontrar os culpados de mais de 100 atentados na capital deste país. Em 5 de junho de 2012, por falta de provas, todas os jovens do chamado “caso bombas” foram absolvidos no Chile, dando conta da montagem que empreendeu os promotores do governo chileno contra os okupas e anarquistas na cidade de Santiago.

No Uruguai, desde o 1º de maio está detido David Lamarthée, anarquista, taxista, e membro do sindicato SUAT. Ele é acusado de danos à propriedade quando na manifestação do Dia do Trabalho respondeu à agressão de outro motorista de táxi que repreendeu os trabalhadores que estavam em greve e, David, supostamente atacou o carro dele.

Na Argentina, em abril de 2010, cinco anarquistas foram presos na penitenciária de Ezeiza, acusados de "arrogância ideológica" e "danos" por sua participação em um escrache à embaixada grega em solidariedade com os lutadores daquele país. Foram liberados graças à mobilização popular.

A lista de ativistas sociais reprimidos, perseguidos e encarcerados na América Latina é longa.

Na Bolívia, a prisão dos ativistas se dá também dentro dos protestos pela preservação do TIPNIS (Território Indígena Parque Nacional Isiboro-Secure), localizado na Selva Amazônica e onde as comunidades indígenas veem seu ecossistema ameaçado pela construção de estradas pelo desenvolvimentista plano IIRSA (Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional)

O conflito sobre o TIPNIS

Na Bolívia, nos últimos anos, vem acontecendo uma grande resistência à construção de uma rodovia que atravessará o Território Indígena Parque Nacional Isiboro-Secure (TIPNIS). Dentro do TIPNIS habitam 65 comunidades indígenas que vivem na e da terra. Em setembro de 2011, manifestantes favoráveis a conservação da reserva foram duramente reprimidos no meio de uma marcha que fizeram a pé até La Paz.

O projeto IIRSA tem como objetivo todo um plano de extração de recursos naturais na região. A estrada que está sendo construída cruzaria do Peru para o Brasil através da Bolívia. O Ministro Romero disse: "Esta onda de ataques violentos teve a intenção de causar temor na população”. Mas, não foram eles que causaram TERROR quando intervieram na marcha do TIPNIS, batendo em homens, mulheres e crianças e anciãos? Não foram eles que com estas detenções injustificadas estão causando temor na população: o medo de ser preso por protestar, o medo de ser preso por se opor ao governo, o medo de ser preso por apoiar a luta do TIPNIS e outras demandas sociais? A construção da estrada que atravessa o território indígena TIPNIS, que desde qualquer ponto de vista é uma afronta ao senso comum e contradiz ferozmente o discurso genuíno usurpado dos movimentos sociais e indígenas sobre a "Mãe Terra" e "O bem viver"; a incompatibilidade do capitalismo neoliberal extrativista de "esquerda e socialista" com a projeção e reivindicação que, com muito trabalho e mortes, ergueram há anos os povos livres que ocupam o território da Bolívia.

Agora se manifestam os verdadeiros valores do Estado e do Governo da Bolívia: uma defesa forte e confiável para o capitalismo e as instituições de poder, que ameaçam claramente os povos indígenas e as pessoas em geral, enfim, a liberdade. Desabam finalmente os discursos e a política de forma e não de fundo deste governo: na realidade não reagem frente aos ataques contra os índios, na verdade, reagem quando se realiza uma ação que perturba um pouco a passividade das instituições que garantam um etnocídio. Na realidade, não estão contra o capitalismo, mas contra aqueles que o atacam. Na realidade, não são anticolonialistas, mas profundamente autoritários, civilizatórios, extrativistas e colonizadores. Ao fim e ao cabo, as máscaras caem, e caiu a máscara deste governo deixando nu um Estado como qualquer outro.

O que realmente pretende o governo é encobrir seu fracasso na "luta contra o crime", prendendo estudantes universitários para então mostrá-los como criminosos de alta periculosidade. Sobretudo, esta montagem é utilizada para encontrar provas para justificar a promulgação e aplicação de uma lei antiterrorismo nos países sul-americanos, como já fizeram na Argentina, Venezuela e Chile. Esta lei não faria outra coisa que criminalizar e punir qualquer protesto ou movimento social que se choca com o monólogo estatal.

Nossas redes são de solidariedade, resistência, a partilha de conhecimentos, autonomia e comunidade, não são "células terroristas" como tratam de confundir os governos e desinformar os meios de incomunicação, para invisibilizar os conflitos que estão acontecendo no país, por causa das contradições do governo, que afirma defender a liberdade de expressão no Estado "multinacional", o respeito à diversidade, os direitos dos povos e da terra, enquanto impõem violentamente políticas de destruição e perseguição.

Se todos os que somos anarquistas, libertários, feministas, antiautoritários e anticapitalistas, vegetarianos, que pensamos, questionamos, vivemos e resistimos e reexistimos a essas lógicas de poder e dominação somos "terroristas", as prisões não terão lugar para o povo.

Os terroristas são vocês, estados, capitalistas, oligarcas, destruidores!
Libertação imediata de nossos companheiros.

Mais informações
http://www.paginasiete.bo/2012-05-30/Sociedad/Destacados/Policia-boliviana-detiene-a-grup.aspx
http://www.territoriosenresistencia.org/~~V
http://anarquiacochabamba.blogspot.com/

Se você quiser apoiar financeiramente envie um e-mail para libertadpresxsbolivia@gmail.com e entramos em contato.
Abaixo este maldito neocolonialismo bolivariano!
Imenso amor libertário do Brasil.
Solidariedade com Nina Marcia e Henry!
Solidariedade com os outros companheiros achacados pelos aparatos repressivos do governo de Evo Morales!
Fogo nas prisões junto com os carcereiros!
Morte a qualquer tipo de Estado e Morte a qualquer tipo de Autoridade!

A propósito do anarquismo e do/as anarquistas preso/as recentemente em La Paz, na Bolívia

Recentemente vendo sendo manipulado desde os meios de comunicação e desde as declarações oficiais do governo boliviano, a ideia de que o anarquismo é sinônimo de terrorismo. Isto é uma grande mentira e queremos dizer algumas coisas sobre ele. O anarquismo é uma forma de vida que aposta radicalmente pela liberdade. Que desconfia profundamente de qualquer estrutura social hierárquica e autoritária. Que crê no ser humano e na sua autodeterminação. Que confia nos indivíduos e na sua autonomia. O anarquismo é um movimento político que defende uma mudança no mundo, porque rejeita a injustiça, condena a pobreza, é anticapitalista e anti-imperialista. E ao contrário do que dizem sobre nós hoje, os anarquistas e as anarquistas são pessoas como qualquer outra. Somos professores e professoras, artistas, escritores e escritoras, músicos, pesquisadores e pesquisadoras sociais, estudantes, acadêmicos, operários e operárias e muitas outras coisas mais... Temos nossas famílias, nossos filhos, com ou sem um parceiro, sempre em grupos, comunidades ou redes solidárias... os e as anarquistas simplesmente acreditam que outro mundo é necessário. Esta é a diferença.

Por outro lado, o movimento social na Bolívia deve muito ao anarquismo histórico. As primeiras tentativas sérias desde a esquerda, para ter relações com o movimento indígena, foram por iniciativa dos anarquistas na década de 20. Os primeiros sindicatos operários neste país foram anarquistas, associados à FOL (Federação Operária Local). O protagonismo das mulheres dentro dos sindicatos anarquistas, como na FOF (Federação Operária Feminina) abriu o caminho para a defesa de seus direitos e a denúncia da opressão que as mulheres sofriam em nosso país, sendo fundamentais dirigentes como Petronila Infante. Esta é a nossa herança, uma luta profunda e constante pela dignidade das pessoas, pelo seu direito de decidir, por seu direito à autodeterminação, pelo seu direito de viver plenamente.

Nossas formas de luta atualmente são tão diversas, que até para nós nos surpreendem: desde o ativismo cultural, com a organização de concertos ou feiras itinerantes, com a formação de grupos de punk, de instrumentos folclóricos (sikus, por exemplo) ou de teatro, com a publicação de livros (poesia, contos, histórias e quadrinhos), a criação de zines e artesanatos, etc.; o ativismo ambiental, que trata de conscientizar as pessoas sobre o aquecimento global, a poluição, o desmatamento e os efeitos nocivos da modernização sobre o nosso país e em todo o mundo; o ativismo feminista, que denuncia as relações patriarcais e machistas em nossa sociedade e nas nossas vidas cotidianas, essa violência institucionalizada que oprime e mata...; até posturas pessoais como o vegetarianismo, a abstenção de consumir produtos transnacionais ou transgênicos, o anticonsumismo, ou nosso visual: desde jaquetas de couro e tachas até ponchos e sandálias, passando pelo cabelo grande ou muito curto, botas ou bonés... não tem tampouco nenhuma norma nisso... Essas ações estão muito longe de serem terroristas. Nós não somos terroristas. Somos dissidentes. E isso não é um crime.

Agora, o governo e seus instrumentos de repressão nos detêm e intimidam, desinformam a opinião pública e deturpam os fatos. Acreditamos que a razão para toda essa enganação é enfraquecer a nossa esperança e nosso movimento, desviar a atenção dos problemas mais urgentes e criar medo na população. Mas, acima de tudo, acreditamos que esta montagem é usada para encontrar bodes expiatórios para justificar a promulgação de uma lei antiterrorismo no nosso país, como já fizeram na Argentina, Venezuela e Chile. Esta lei não faria outra coisa que criminalizar e punir qualquer protesto ou movimento social que se choque com o monólogo estatal. Condenamos esta ação covarde e autoritária, e exigimos um fim à onda de prisões que estão sendo realizadas nestes últimos tempos. Exigimos um processo justo e público. Exigimos a libertação dos detidos. Exigimos que a verdade seja dita.

Viva a anarquia!

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